Aquele menino , cabelinho de fogo , me visitava todas as manhãs .
Era sozinho , e sua mãe não tinha tempo para brincadeiras , a não ser aos domingos, dizia .
"Só eu brincava com ele , pois tinha todo o tempo do mundo ! "
Vinha balançar à minha rede , jogar pega varetas , e o motivo maior era o cara a cara que pertencia a meu filho .
Estranho adultos terem jogos assim , se já os tiveram na infância .
Uma boa lembrança que guardaríamos , ele , ao filho , eu , ao neto .
A infância foi sem dúvida acolhedora , não deveríamos ter saído dela !
Vagueio em pensamentos , já que tenho todo o tempo do mundo , mas não o tenho .
Tinha compromissos e objetivos , precisava também ler , estudar e escrever .
Mas a um garoto de 8 anos não importava , imaginava que eu estava em casa disponível para ele .
Inteligente , escondia meu cigarro em lugares mais escabrosos e dizia que era para meu bem , sem dúvida .
Você vai morrerrrrr !!! gritava .
Gritava, agitava e escalava o portal de minha cozinha .
Vinha , de repente , lutar karatê comigo .
Eu me divertia muito com suas travessuras e de sua prepotência ingênua , mas prepotente .
Viajei , fiquei fora por uns 15 dias .
Já de volta , esperava ansiosa por sua visita , mas nada !
Pensei então que a campainha não mais tocaria , que o havia perdido , afinal me tinha esquecido .
Sorrateiramente , ele apareceu ao meu portão , enfim .
Dessa vez não veio brincar .
Só me pediu e me deu um longooooo abraço .
Rosângela de Paiva .